26 de abr. de 2009

CURRÍCULO,ESCOLA E AS QUESTÕES RACIAIS: A LITERATURA EM QUESTÃO.











Currículo, Escola e as questões raciais: A Literatura em questão.



Contar histórias reaproxima espaços, tempos e mentalidades por meio da força estruturadora que a narrativa contém. As experiências humanas foram e são narradas. E ouvir histórias é apropriado a todas as idades e níveis de ensino. As histórias gozam da liberdade de transitar por representações passadas e presentes e de ousar sonhar com futuros. Nelas, os conteúdos de um imaginário social se corporificam, provocando identificações, repulsas e referências, tanto no nível individual como no social. Enfim, as histórias são pautadas por valores sociais que são narrados pelos seus personagens, conflitos, soluções, no tempo e espaço determinados pela estrutura da narrativa. O ser humano precisa de histórias para aprender a ser humano.
As histórias africanas, carregadas da força da oralidade, constituem um vigoroso instrumento para aproximar a imagem mental dos nossos alunos da vida dos povos africanos e dos seus valores. Recuperar os heróis africanos e sua saga, como o caso de Sundiata, alimenta de modo positivo o repertório sobre a vida naquele continente. Os mitos africanos contribuem neste sentido.
Por outro lado, as histórias de brasileiros negros que superaram e ultrapassaram a condição desigual a que foram submetidos, e deixaram um importante legado à nação ou tiveram importância em uma situação particular, são fundamentais na construção de referências positivas para os alunos e, em especial, os alunos negros. José do Patrocínio, Luís Gama, André Rebouças, Machado de Assis, Juliano Moreira, Lima Barreto, Teodoro Sampaio, Carolina de Jesus, são alguns exemplos de políticos, literatos, médicos, engenheiros que compuseram com as suas histórias a nossa história. Quem não conhece “Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá. As aves que aqui gorjeiam, não gorjeiam como lá...” São os primeiros versos da Canção do Exílio, escritos por Antonio Gonçalves Dias, um dos maiores representantes do romantismo brasileiro e também autor de I-Juca Pirama, uma das obras-prima da nossa poesia. De origem mestiça, foi proibido de desposar Ana Amélia Ferreira do Vale, o grande amor de sua vida, pois a mãe da moça não concordou com o casamento, dada a origem do poeta.
E Machado de Assis? Autor obrigatório nas leituras escolares, talvez o maior romancista brasileiro de todos ostempos, ele era filho de um operário mulato e de uma portuguesa nascida nos Açores. Neto de escravos perdeu ainda criança sua mãe e sua irmã, vítimas de doenças que assolavam na época a cidade do Rio de Janeiro. Sobre sua infância e o início da adolescência, pouco se sabe. Helena, Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba, Dom Casmurro, O Alienista, O Espelho, Missa do Galo são alguns exemplos dos romances e contos do autor, que também escreveu poemas, crônicas sobre o cotidiano, peças de teatro, críticas literárias e teatrais. O advogado e poeta Luis Gama teve uma trajetória de vida ímpar. Filho de africana liberta da Costa da Mina e de fidalgo português nasceu livre na Bahia, em 1830. Sua mãe, Luiza Mahin, rebelde e livre, foi acusada de envolvimento em ações revolucionárias e, então, foi exilada para o Rio de Janeiro ou talvez para o Oeste Africano. Seu pai empobreceu e o vendeu como escravo, três anos após o desaparecimento de sua mãe. Luis Gama tinha então dez anos. Aprendeu a ler na adolescência e logo passou a trabalhar como tipógrafo, para depois tornar-se advogado e um dos maiores líderes abolicionistas. A sua importância foi tal que seu enterro, em 1882, paralisou a cidade de São Paulo e contou com o acompanhamento de cerca de três mil pessoas, entre negros pobres, fazendeiros, políticos, advogados, e até o Conde de Três Rios, Vice-Presidente da Província em exercício.
A literatura brasileira está repleta de escritores negros e mestiços que reconhecidamente marcaram escolas literárias, como seus representantes ou precursores, e precisa ser revisitada nesta perspectiva. Uma outra forma de entrar em contato com esses escritores, dependendo do nível ou série de ensino, é por meio do estudo de biografias. A biografia é um gênero textual que, adequadamente estudado, amplia o universo de informações e permite o estabelecimento de relações, quando se contextualizam o período e as situações que ali são mencionadas. O estudo da influência das línguas africanas no português brasileiro pode ser um outro meio de aprender sobre essa presença na nossa língua, que passa despercebida, por estar impregnada no seu uso cotidiano. Darcy Ribeiro comentou que as línguas africanas amoleceram o português. Acarajé, angu, agogô, banda, batuque, bamba, banguela, banzo, carinho, cafuné, caçula, cachimbo, camundongo, calombo, canga, cachaça, caxinguelê, chuchu, caxumba, calundu, cochilo, dengo, dengoso, dendê, fubá, inhame, Ioiô, Iaiá, jiló, jongo, moleque, miçanga, molambo, marimbondo, marimba, macambúzio, maxixe, mucama, quiabo, quitanda, quitute, quilombo, quibebe, tanga, vatapá, xingar, zumbi - são exemplos de algumas das palavras de origem africana na língua portuguesa do Brasil. Algumas sugestões de literatura infanto-juvenil:

ALGUMAS SUGESTÕES DE LITERATURAS


1 - PINSKY, Mirna. Nó na garganta. São Paulo: Atual, 1991 (série conte outra vez)
2 - SANTOS, Joel Rufino. Dudu Calunga. São Paulo: Ática, 1986.
- Zumbi. São Paulo: Ática, 1985. (Col. Biografia)
- Gosto de África – histórias de lá e daqui. São Paulo: Global, 2001.
3 - COOKE, Trish. Tanto, tanto. São Paulo: Ática, s.d.
4 - ZIRALDO. O menino marrom. São Paulo: Melhoramentos, 2004 30ª edição.
5 - MACHADO, Ana Maria.
- Menina bonita do Laço de Fita. São Paulo: Editora Ática, 1997.
- Do outro lado tem segredos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, s.d.
6 - LESTER, Julius e CEPEDA, Joe. Que Mundo Maravilhoso. São Paulo: BRINQUE-BOOK, 2000.
7 - DIOUF, Sylviane S. As tranças de Bintou. São Paulo: Cosac e Naify, 2004.
8 - PRANDI, Reginaldo.
- Os Príncipes do Destino. São Paulo, Cosac e Naify, 2001.
- Ifá, o Adivinho. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2002.
- Xangô, o Trovão.
9 - GODOY, Célia. Ana e Ana. São Paulo: DCL, 2003.
10 - LIMA, Heloisa Pires. Histórias da Preta. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 1998.
UNIDADE 2 - Currículo, Escola e Relações Étnico-Raciais
Aula 2.07 - Histórias, Leituras, Literatura
11 - BARBOSA, Rogério Andrade;
- Histórias Africanas para Contar e Recontar. São Paulo: Editora do Brasil, 2001.
- O Filho do Vento. São Paulo: DCL, 2001.
- Como as Histórias se Espalharam Pelo Mundo. São Paulo: DCL, 2002.
12 - EISNER, Will. Sundiata – O Leão de Mali. São Paulo: Companhia das Letrinhas, sd
13 - LAMBLIN, Christian.
- Samira não quer ir à escola. São Paulo: Editora Ática, 2003.
- Os pais de Samira se separaram. São Paulo: Editora Ática, 2002













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